Uma Biblioteca
Fabulosa
Quando eu ia àquela Biblioteca, a primeira coisa que eu fazia era subir as
escadas que davam para o andar de cima… era uma espécie de sótão que eu
acreditava não ter sido ainda descoberto por mais ninguém...
Não sei porquê, mas, as pessoas que iam àquela biblioteca concentravam-se
todas no andar de baixo! Umas em pé, outras sentadas, cada uma presa ao livro
que elegera, pareciam não perceber que existia ali outro andar …
A parte superior era o meu sítio preferido e desejava de todo o coração que
nunca ninguém percebesse a existência daquelas escadas… Assim, ficava só para
mim!
Eram tantos os livros que ali existiam! Eu até já os tinha tentado contar
por diversas vezes, mas nunca consegui terminar antes de ter que ir embora!
Normalmente, sentava-me, ali, naquele banquinho cilíndrico forrado a tecido
adamascado já desgastado e com filamentos dourados esfiapados que mais parecia
um gato eriçado!
Era ali que eu ficava a ouvir as conversas dos livros!
Sim! No andar de cima daquela biblioteca os livros falavam!
Também se viam por ali muitos dos personagens das histórias!
Sim! Até já ali tinha visto a Alice do País das Maravilhas a
conversar com a Branca de Neve e com os sete anões! Eram mesmo muito
pequeninos… mesmo iguaizinhos aos da história!
Ali, naquele espaço, só o cheiro é que era sempre igual porque no resto era
sempre diferente, desde os temas de conversa entre os livros mais didáticos às
brincadeiras dos mais pequenos …naquele andar tudo era mágico!
Os livros de Filosofia tinham longas e profundas conversas com os de
Psicologia que os entendiam perfeitamente!
Os de História e os de Ciências nem sempre estavam de acordo mas não havia
qualquer hostilidade entre eles!
Os de Química e os de Física eram inseparáveis… autênticas Almas gémeas!
Os de Matemática não dialogavam muito, o cálculo exigia-lhes muita
concentração!
Os de Poesia revelavam sensibilidades e percepções singulares!
Os infantis, esses, andavam sempre na brincadeira entre as estantes,
esconde ali, esconde acolá!
Lá ao fundo, num recanto, junto à estante dos Romances, mesmo por baixo da
clarabóia, estava um menino com um caixote de papelão metido na cabeça onde
apenas se viam dois buraquinhos à altura dos olhos… certamente eram para poder
ver!
Vi que estava de mão dada com uma bela menina de cabelo cor de fogo e, pela
forma como se olhavam, eram certamente protagonistas de uma bela história de
amor…
Olhei para o relógio e vi que já era muito tarde!
Apressada, desci as escadas e vi que, para além dos dois funcionários da
biblioteca, a D.Antonieta e o Sr. Bernardo, o andar de baixo estava já
deserto…
Ocupados e muito atentos à organização dos livros nem deram por mim quando,
sorrateiramente, me dirigi para a porta de saída…
- Bernardo, por favor sobe à arrecadação e vê se encontras lá o exemplar do
livro“Felismina Cartolina e João Papelão” que não o encontro aqui em lado
nenhum!
Autor: Alice Costa
Sem comentários:
Enviar um comentário