Um tesouro enterrado no vaso de
terracota
O Inverno era a
estação do ano mais penosa para mim! As minhas forças iam ao limite e
recusavam-me outro sentimento que não fosse o desalento!
Gostava de gostar
do Inverno… mas cada vez que eu abria a janela, de manhã, aquele cenário
cinzento a norte e a sul, da minha vida, debilitava-me o ânimo cada vez mais!
Faltava-me o sol,
o chilrear dos passarinhos, o aroma a mimosas, as ameixoeiras em flor, os dias
longos e leves e… os meus preciosos jacintos…
O meu vaso de
jacintos naquela época do ano, para além da terra, aparentemente não tinha mais
nada lá dentro…Visto assim era apenas mais um vaso em terracota! Não seduzia
ninguém… mas eu sabia que aquela aparência era enganadora porque debaixo
daquela terra existiam bolbos de jacinto, aparentemente Inertes, escondidos do
frio e daquele cinzento torturador…
Eu meditava muitas
vezes naquele mistério! Não exibiam o mais pequeno sinal de vida…nada de
nada…no entanto eu sabia que ali estava um precioso tesouro enterrado! Daquela
morbidez… havia de surgir a mais harmoniosa beleza…em forma, cor, aroma e
simplicidade… somente comparável à das Margaridas!
Um dia ao abrir a
cortina vi o que mais ansiava…dois jacintos amarelinhos a renascer! Era o
prenúncio de que a primavera estava a chegar… e milagrosamente desabrocharam no
dia em que as minhas forças já estavam por um fio…
Devagarinho… para
não os assustar sentei-me na soleira da porta e fiquei ali a contempla-los,
maravilhada, como quem esperou acreditando mas também duvidando… e então senti
que a esperança se renovava em mim implorando-me que esperasse um pouco mais
porque tudo aquilo que eu tanto desejava já vinha a caminho…
E então nos dias
seguintes apareceu o sol, os passarinhos a chilrear, o aroma a mimosas, as
maravilhosas flores das ameixoeiras e… os dias começaram a ser mais longos e
leves…
E, então, recordei
uma frase de Chungliang al huang;
“Com o coração repleto de
esperança aquilo que, realmente, desejamos é inevitável”.
Autor: Alice Costa
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