Três minutos e quarenta
segundos
Eu, invariavelmente,
de manhã, saía de casa sempre à pressa para conseguir chegar a horas ao
emprego! Devia ser vítima de um feitiço qualquer porque, por isto ou por
aquilo, nunca me sobrava um minuto que fosse para gastar com o “nada” que a
vida oferece a alguns dos meus semelhantes!
Naquele dia olhei
para o relógio e, por milagre, vi que tinha três minutos e quarenta segundos de
“crédito”! Talvez o relógio tivesse alguma avaria mas…avarias de três minutos e
quarenta segundos não são fáceis de detetar… a não ser que se possua um Rolex ou um Cartier…por isso guardaria aqueles minutos para mim…não os daria a
ninguém!
Nem tive tempo para
pensar em que é que os ia gastar porque, ali mesmo, ao virar a esquina, estava
um carrinho de recolha de lixo, urbano, parado e, de repente, senti que estava
defronte a um coche do Século IX, transportando uma bela princesa vinda de um
fabuloso reino encantado!
Majestosamente,
sentada na parte da frente daquele mágico carrinho, estava uma boneca de
trapo…tal e qual uma verdadeira princesa!
Acabou-me o tempo e,
de repente, sem querer, comecei a andar … imaginando de quem seria aquele
carrinho tão desigual de tantos outros iguais que circulavam naquela cidade?
Dono tinha com
certeza! E não era certamente um dono qualquer…
Senti um forte desejo
de o conhecer…
E sem que o meu
exigente relógio se apercebesse recuei no tempo e… lá estava a boneca de trapo
a ser lançada para o caixote de lixo…estava triste e muito assustada!
Naquela noite, ficou
ali quietinha com o seu pequeno coração de pano vermelho encolhidinho de medo!
A noite estava muito fria e ela resguardou-se debaixo de um saco de lixo fofo …
que até parecia um édredon de penas!
No dia seguinte, de
manhã, umas mãos carinhosas envolveram-lhe o corpo e julgou que fosse um anjo
que a viesse buscar para o paraíso… das bonecas.
Mas afinal não era um
anjo! Era a senhora que recolhia o lixo naquela rua!
Aquela senhora tinha
um ar sereno e um belo sorriso. Quando a viu os seus olhos brilharam como
estrelas…Ficou encantada!
Nunca tinha tido, nem
visto, uma boneca tão bonita! Como foi possível alguém deitá-la ao lixo?
Com todo o cuidado
alinhou-lhe os cabelos revoltos e colocou-a na parte da frente do seu carrinho…
Agora, a bela boneca,
tal como uma verdadeira Princesa, passeava naquele belo coche pela cidade …e
sempre que alguém se aproximava para admirar a sua beleza e possuía 3 minutos e
40 segundos de crédito, ela, feliz, contava-lhe a sua bela história!
Autor: Alice Costa
História publicada no 11 nº. da Revista "A Casa das
linguagens".
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