A Festa da primavera
A festa da primavera era uma das mais
exigentes do ano e como tal a azáfama era intensa para que nada faltasse ou
falhasse!
No dia 20 de Março…O Sol, as aves, os
insectos e as flores passavam o dia entre estilistas, cabeleireiros e
maquilhadores para que cada um, no dia seguinte, aparecesse no seu melhor…
O Sol, pela trigésima vez, media a
temperatura para se certificar de que não ia desiludir ninguém! A papoila
retirava o último vinco do seu delicado vestido vermelho! O Pampilho ajustava a
ultima pétala do seu chapéu amarelo! A Camomila testava o seu próprio perfume
na parte interior do seu delicado pulso! A Joaninha olhava-se ao espelho, mais
uma vez, para ver se todas as pintinhas pretas estavam bem colocadas! O
Gafanhoto subia mais uma vez para o trampolim para treinar mais um pouco aquele
salto em altura! O Grilo afinava o som para tornar a sua melodia mais límpida!
A Cigarra dormia a sesta para repor as energias! Os Pirilampos, tremeluzentes,
verificavam a intensidade da sua luz! As abelhas passavam em fila à frente da
Abelha Rainha para esta lhes inspeccionar as riscas pois tinham que se apresentar
impecáveis! As Borboletas ensaiavam coreografias livres! As Andorinhas em bandos,
a preto e branco, preparavam espectáculos onde a sintonia entre todas era
milimétrica e deslumbrante! Os Melros escovavam as penas de forma a tornar o
preto mais brilhante e os Pintassilgos
chilreavam felizes!
Depois de uma noite serena…Era chegado o
dia!!! O dia 21 de Março… E então o Sol nasceu! Amarelinho como ouro
exibia os seus primeiros raios…
O Céu estava belíssimo! Vestido de um azul
celeste tão belo e tão suave que apenas se via a pequena nuvem branca! Aquela
nuvenzinha chamava-se fofinha e já todos a conheciam por ali pois todos os anos
era convidada a participar na festa da Primavera! Os campos estavam vestidos de
belos e viçosos verdes!
E então deu-se um milagre de luzes, cores,
sons e aromas! Chegaram todos…luminosos, belos, perfumados e felizes e cada um
ocupou o seu lugar na primavera!
Acordei com os primeiros raios de sol e
corri para a janela… Em nenhum outro dia do ano eu corria para a janela!
Ela já
lá estava! No mesmo sítio de sempre… Pelo menos era o que me parecia…
Quando me viu…balançou ligeiramente as
suas frágeis pétalas vermelhas! Ao vê-la não consegui suster uma lágrima!
Eu adorava a Primavera…e só a Papoila vermelha é que sabia!
Autor: Alice Costa
História publicada no 7º número da revista "Casa das Linguagens".